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Desastres de Autos no Rio
O carioca, como homem do século XX que é, vive, naturalmente, uma vida agitada, cheia de imprevistos e incertezas, e, como se não bastasse tanto dinamismo a mexer impiedosamente com os seus nervos, a tudo isso se somam os riscos diários que corre quando, ao transpor os umbrais de sua mansão, demanda a “fila” mais próxima do ônibus ou “lotação” e entra, desconfiado, no primeiro veículo em que consegue obter um apertado lugar para o seu corpo, já cansado de tanto esperar. O trajeto que o “carioca” faz de sua casa ao seu escritório é pontilhado de perigos sem conta.
Um caminhão, é um “barbeiro” que desconhece o regulamento e as convenções do trânsito, é um “lotação”, velho, em pedaços, largando peças pelo caminho, cujo chofer, na ânsia de angariar mais um passageiro, para inopinadamente. Enfim, o “carioca”, ao conseguir assento diariamente na sua cadeira, defronte ao seu “bureau” de trabalho, rememora o que viu e passou pelo trajeto – Quase morreu; escapou de perder um braço; traz vestígios, na sua roupa amarrotada, do conforto do “lotação”. Diante de seus olhos, vê um “Citroen”, último tipo, imprensado entre uma árvore e um ônibus; uma “Packard” que se despencou da Avenida Pasteur no pátio do Clube Guanabara de Regatas; um pequeno “Standard” reduzido a ferro velho entre dois bondes; um “lotação” que desobedeceu ao volante e se chocou num poste, na Avenida da Ligação, defronte à residência do saudoso Comendador Martinelli; um carro particular subindo ao meio-fio, semeando a morte ao dar pelas calçadas da Praia do Flamengo. Para não perder o resto de seu tempo, o nosso herói, indignado, resolve correr diante de seus olhos uma cortina, esquecer tudo aquilo e conceder ao seu trabalho alguns momentos de atenção e, portanto, pouco se lhe dá.
Para o vendedor de automóveis, certamente, estas linhas deveriam ter ficado no tinteiro, porém, este, hoje em dia, tem a seu favor a infalível lei da “Economia Política” selada do que vai aí pela rua. Mas para o corretor de seguros de automóveis, o que por aí se passa é de fazê-lo perder o sono. A propósito, soubemos que em virtude dos inúmeros sinistros ultimamente verificados tem havido, por parte dos detentores de carteiras de seguros de automóveis, um certo retraimento e descontentamento de seus clientes e seguros apenas de certas e determinadas marcas de carro. Medidas estas que não só visam acautelar os interesses das Companhias de Seguros, como também, é óbvio, concorrerão para reduzir o número de acidentes, pois geralmente os que abusam no trânsito são aqueles que se sentem à vontade, sob a garantia de uma apólice de seguro bastante compensadora, e para os quais um para-lama ou um para-choque amassado se resumem apenas no trabalho de ir ao telefone mais próximo e comunicar a ocorrência à companhia de seguros.
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A Elevação do Custo de Vida no Brasil
Todos nós sabemos por dolorosa experiência como aumentou o custo da vida, fato que, aliás, não se registrou somente no Brasil. A partir de 1939, quando nos campos da Europa se chocaram os primeiros exércitos, os preços das utilidades começaram sua ascensão, a princípio lentamente, para nos últimos anos, e já feita a paz, aceleraram a velocidade da subida.
Mas se tudo subiu, desde a matéria-prima à mão de obra, e inclusive os impostos, o que é fato é que nem tudo subiu na mesma proporção. Uma estatística dada a conhecer pelo Ministério da Fazenda, e cobrindo os anos de 1939 a 1946 (só até novembro) mostra isso claramente. A referida estatística nos dá o custo de vida no Rio, mensalmente, para uma família da classe média, constituída de 7 pessoas. Ei-la:
Pela tabela acima, pode-se ver que o que menos subiu foi: o aluguel de casa, os salários de empregados domésticos e a luz e gás. Para melhor comparação, atente-se agora nos números-índices expostos na segunda tabela, que foi organizada tomando como base o ano de 1939, e dando a este um valor de 100:
Não esquecer, porém, que se trata de estatísticas oficiais e que, portanto, sua tendência é mostrar as coisas a uma luz menos pessimista. Com efeito, alguns artigos, como por exemplo o vestuário (e nisto certamente está incluído o calçado) e salários de empregados domésticos, estão aquém da realidade, pois é evidente que nessas rubricas os preços subiram além do que mostra a tabela.
Mas, em relação a outros países, em que situação está o Brasil em matéria de custo de vida? Pelo que se vê na tabela que a seguir estampamos, publicada há tempo pelo “Jornal do Comércio”, nossa posição não é das melhores. A citada tabela mostra as percentagens de aumento registradas até 1946 em relação aos preços de 1939. Vejamos:
É evidente que o valor do confronto não é absoluto. Certas determinantes locais, de ordem econômica ou política, influem mais em um país do que em outro. Contudo, não é fácil compreender os motivos pelos quais, no Brasil, que não sofreu tão diretamente e fortemente os efeitos da guerra, se registrou uma tão grande alta de preços. Não constam da tabela países como a França, a Itália, o Japão e a China, onde a alta foi simplesmente catastrófica. É fato, mas em compensação, note-se que nações onde os efeitos da guerra se fizeram sentir mais diretamente, como os Estados Unidos, o Império Britânico, a Noruega, etc., a alta foi muito menor do que a registrada entre nós. Mas já o disse o grande épico:
“Vejam agora os sábios na escritura
Que segredos são estes da natureza”.
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Quando o Seguro é Uma Coisa Providencial
As fotografias desta página mostram bem o estado em que ficaram vários caminhões “International”, em resultado de um acidente ocorrido a bordo do navio que os transportava para o Brasil.
O fato passou-se durante a viagem do “S. S. Rio Amazonas”, do Lloyd Brasileiro, quando fazia sua primeira travessia de Nova York ao Rio. Os caminhões vinham no convés. A certa altura, o navio enfrentou um mar agitado e, num balanço mais violento, partiram-se as “peias” de um “pau de carga”, que tombou sobre os caminhões. Em poucos instantes, carrocerias e motores foram transformados em um aglomerado de ferro-velho.
Mas os caminhões estavam segurados contra tais riscos e o importador foi reembolsado de seu valor. Este fato é mais uma eloquente lição de que a melhor garantia para bens móveis ou imóveis é o seguro.
A queda de um simples “pau de carga”, no con vés de um navio, eis os estragos que causou em vários caminhões…
.. Mas os caminhões estavam no Seguro e, assim, o importador pó- de ressarcir-se dcs pre- juizos causados por tão inesperado acidente
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Noite de S. João
de ARNALDO NUNES
(Da Academia Fluminense de Letras)
As tradições são tão importantes para caracterizar um povo, que já no velho e autorizado conceito de Prichard “as coleções de indivíduos que apresentam mais ou menos características comuns” bastam para distinguir-se nelas não apenas um espírito, mas uma raça. Parece muito arrojada a hipótese de raça sem afinidade antropoétnica; todavia, o que mais importa, socialmente, é o povo, e a unidade deste se aquilata, sem dúvida, pelo seu espírito.
Quanto mais remotas as tradições, tanto mais perfeito o entendimento dos aglomerados humanos e tanto mais profunda a sua unidade. Isto nunca quis e continua a não querer significar estática ou isolamento. O reflexo da tradição pode existir a par da evolução, sem prejudicá-la. Basta citar os povos mais antigos do ocidente, que são os mais adiantados do mundo – Inglaterra, França, Alemanha, Holanda, Dinamarca, e outros.
Isso ocorre ao pensarmos nas festas tradicionais de São João, que estamos vivendo. É com a longitude do tempo que o panorama do passado se nos abre em todo o colorido da sua beleza, para o encanto do presente e a segurança do futuro.
Em outros tempos, era no interior que as festas juninas tinham maior relevo, e entre elas, ontem como hoje, São João era a mais celebrada. Enfeitavam-se as vilas, povoados e fazendas, na delícia farta das comemorações e no feérico dos ornamentos.
Ao entardecer, apareciam já ornados de folhas e de ramos verdes e bandeirolas as ruas e os terreiros das fazendas, nuns e noutros erguidas as pirâmides de lenha para as fogueiras. Chegada a noite, rompia a música, espoucavam os rojões, as fogueiras se acendiam, os vivas a São João e estava iniciada a festança, que ia até ao amanhecer do dia seguinte.
Ruas e estradas, terreiros e engenhos, vendas e casas grandes, tudo tumultuava, ao brilho de tantas luzes, foguetes de lágrimas, pistolões, rodinhas, chuveiros de fogo a jorrar pelas janelas, na algazarra dos bailes, dos batuques, das violas e dos pandeiros, sem faltar a gritaria em torno ao indefectível pau de sebo, todo enfeitado de flores e fitas.
Dali a pouco, uma ligeira trégua. Era a hora dos balões, seguida de nova barulheira. Depois, os melhores comes e bebes, e por fim as superstições, com o seu infinito e curioso rosário de sortes e adivinhações.
Em outros tempos, era uma festa do interior. Hoje vai cedendo lugar às grandes cidades; mas sem o mesmo encanto, pela impropriedade do ambiente, ainda assim interessantes. Os “bailes à caipira”, tão em moda, não conseguem reproduzir o original, em seu sabor magnífico.
Com sua música simples e apropriada, Paulo Setúbal conta-nos as delícias dessas noitadas.
É noite… O santo famoso,
O doce, o meigo S. João,
Tivera um dia glorioso,
Dia de festa e de gozo,
Que encheu de estrondo o sertão.
Já cedo, em meio aos clamores,
Aos vivas do poviléu,
Lindo, ornado de flores,
Um mastro de quentes cores,
Subira em triunfo ao céu.
E agora, enquanto alva e lesta,
Palpita a lua hibernal,
Na fazenda toda festa
Referve a alegria honesta
Da noite tradicional.
Dentro, com grande aparato,
Brilha, enfeitado, o salão:
Que há, nossa festa do mato,
Pessoas de fino trato,
Chegadas para o S. João…
Ante o auditório pasmado,
Que, num enlevo, sorri,
A Isabelinha Machado
Batuca, sobre o teclado,
Uns trechos do Guaraní…
Tudo o que toca e assassina,
Recebe imensa ovação;
Todos, quando era termina,
Põem-se a exclamar: Que menina!
Dá gosto! Que vocação!
E ela, entre ingênua e brejeira,
Com ares de se vingar:
“Agora, queira ou não queira,
Seu Saturnino Pereira
Há de também recitar.”
No salão, mudo e tranquilo,
Na chama dos versos seus,
Ele, o letrado da vila,
Ao som da velha Dalila,
Lá vai: “Foi desgraça, meu Deus.”
Após ouvir a estupenda
Fiamância do seu falar,
No amplo salão da fazenda,
Os velhos jogos de prenda
Reciamam o seu lugar.
E todo o mundo, a porfia,
Põe farpas na indiscrição…
E enquanto, ingênua e sadia,
Essa camponesa alegria
Vai tumultuar o salão,
Lá fora, alegre e gabola,
Num terreiro de café,
Ao rude som da viola,
A caboclada rebola
Num tremendo bate-pé!
A voz do pinho que chora,
Pairando sob a paz do luar,
Fremindo vai, noite em fora,
Essa alegria sonora
Da caboclada a bailar!
E do salão, que ainda brilha
Num faiscante esplendor,
Chegam os sons da quadrilha,
Que alguém ao piano dedilha
Com indomável furor.
E no sarau campesino,
Nessa festa alegre e chã,
Ruge a voz do Saturnino,
Que grita, esgalgado e fino:
“Balancez! Tour! En avant…”
É uma tradição encantadora, que ainda vive e que esses versos evocam com muita propriedade. Um outro aspecto nos é dado pelo poeta Junquilho Lourival:
“O luar! Como se a lua compartilhasse
Da alegria que envolve a vila inteira,
Desce do azul e vem beijar a face
Da terra! A luz do luar é prata em poeira!
Que poesia circunda a pagodeira!
É como se na testa o santo andasse:
Cada choupana ostenta uma tocheira,
De cada fogaréu a glória nasce!
E num terreiro, ao choro da sanfona,
Mocinhas, exalando mangerona,
Levantam, sapateando, o pé do chão.
E um aboio, da mata, lá no fundo,
Pede a Nosso Senhor que acabe o mundo
Em uma dessas noites de S. João!…”
Afirma José de Alencar que “Quem nunca ouviu essa ária dos nossos vaqueiros (o aboio), não imagina o encanto que produzem os seus arpejos maviosos, quando se derramam pela solidão, ao pôr do sol, nessa hora mística do crepúsculo, em que o céu tem vibrações célebres e profundas. Não se distinguem palavras na canção do boiadeiro, nem ele as articula, pois fala ao seu gado com essa outra linguagem do coração, que enternece os animais e os cativa. Arrebatado pela inspiração, o bardo sertanejo fere as cordas mais afetuosas de sua alma e vai soltando às auras da tarde, em estrofes ignotas, o seu hino agreste.”
E o aboio pedia a Nosso Senhor que acabasse o mundo numa dessas noites de São João! Que belo, que maravilhoso fim!…
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A Bolsa de Londres
Copyright B. N. S., especial para o “Noticiário Lowndes
De Oscar R. Hobson
Vista do interior da Bolsa de Londres
LONDRES – No começo de 1947, a Bolsa de Londres voltou para o ambiente de paz, restabelecendo o sistema de liquidações quinzenais, o qual representa, desde tempos imemoriais, um traço característico de seu método de negociar. De acordo com esse sistema, as compras e vendas de valores ou ações tornam-se efetivas entregando o vendedor o vendido e pagando o comprador o preço cada duas semanas, num dia destinado a liquidar, e não diariamente como em Nova York e outras bolsas norte-americanas.
O sistema, que não se aplica aos valores do governo britânico e do Império, foi suspenso ao começar a guerra, como também o foi durante a primeira contenda mundial, por não se considerar oportuno estender os créditos nem sequer por quinze dias. A volta para o sistema antigo assinala o fim do “estado de emergência”, no que à Bolsa se refere, embora subsistam ainda algumas das restrições de tempo de guerra, sendo a mais importante a de não se terem restabelecido as disposições para renovar o crédito aos corretores. Essas disposições estão relacionadas com o procedimento de liquidações quinzenais, sob um sistema de posposição, mediante o qual os especuladores podiam, em virtude das facilidades de crédito outorgadas pela Bolsa, adiar a liquidação de suas operações desde um dia de liquidação até o próximo, duas semanas mais tarde. Mas hoje considera-se antissocial a especulação de bolsa, e o sistema de posposição passará para o arquivo das velhas lembranças.
Levando em conta essa proibição que acabamos de assinalar, é ainda mais notável que, durante os últimos meses, o volume de transações efetuadas na Bolsa de Londres tenha superado todos os recordes anteriores. Na realidade, foi a própria quantidade de operações o que principalmente levou o Conselho a voltar para o antigo sistema de liquidações quinzenais, pois, em face da celeridade de que todas as transações devem realizar-se à vista (o que, segundo o uso, se entende no prazo de cinco dias), o pessoal, reduzido e em muitos casos sem experiência, ficou assoberbado de trabalho. Por tal motivo, o especulador audaz gozava com frequência, para manejar seu dinheiro, de um prazo maior que no velho sistema.
Disse acima que o volume de operações superava todos os recordes. Mas é necessária uma explicação, porque a Bolsa de Londres, ao contrário de outras, não tem estatísticas das ações vendidas em seu recinto, pelo qual não é possível fazer afirmações definitivas. O que faz Londres é registrar o número de transações oficialmente “verificadas”, isto é, realizadas pelos funcionários.
Corretores e compradores nas proximidades da Bolsa
O período da guerra apresenta alguns contrastes importantes. Nos meses que se seguiram à queda da França, em 1940, sobretudo nos meses da blitz quando os serviços de correios e telégrafos ficaram desorganizados e a bolsa teve que fechar as operações, as transações de bolsa ficaram reduzidas a um mínimo. Houve dias com menos de mil transações. Durante um infindável número de semanas, a média oscilou entre 1.000 e 2.000.
Nos últimos anos da conflagração, as coisas foram melhorando, e, ao terminar as hostilidades, as operações atingiram uma média diária de 5.000 a 6.000.
Nos últimos meses de 1945 e nos primeiros de 1946, as operações foram aumentando constantemente, até chegar ao máximo de 83.000 na segunda semana de maio do ano último, com uma média de 16.000 diárias.
Como disse acima, é impossível relacionar estas cifras com os períodos de auge ou depressão. Alguns desses períodos ainda vivem na lembrança de muitas pessoas: os auges da borracha, em 1910 e 1924, ou, anteriormente, os dias “pretos”, geralmente segundas ou sextas-feiras, como os da crise de “Harry”, em setembro de 1929, ou os da crise de Munich, em setembro de 1938.
Do ponto de vista quantitativo, não há dúvida de que a importância total das transações, num dia de grande atividade, ultrapassa consideravelmente os dias de auge do ano passado. Isso se deve ao fato de que o valor das ações aumentou pela expansão da Dívida Nacional nos últimos anos. É verdade que, durante a guerra, uma grande quantidade de valores de ultramar — cerca de um bilhão de esterlinos — sobretudo norte-americanos e canadenses, foram requisitados pelo governo a fim de os vender e obter dólares e outras divisas estrangeiras. O desaparecimento desses valores das listas da Bolsa, unido à continuação do controle de câmbios e à proibição de obter bônus fora da área do esterlino, representa uma tragédia para a Bolsa de Londres, a qual, antes da guerra, era o maior mercado de valores e ações do mundo, e agora dificilmente pode proclamar ser um verdadeiro mercado mundial. Mas, como valores requisitados foram substituídos por títulos do governo britânico, o conjunto dos valores cotados, embora menos variados, não diminuiu, mas, pelo contrário, foi crescendo à medida que aumentavam os empréstimos de guerra do governo. Segundo os últimos dados, o volume total de valores cotados elevou-se, em 31 de março de 1945, a mais de 24 bilhões de esterlinos, passo que, em 1939, foi de 18 bilhões e meio de esterlinos.
A fachada da Bolsa de Londres
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Um Minuto A Carlos Gomes
por M.C. Pacheco
Ao ouvirmos falar em Carlos Gomes, insensivelmente nos vibram na alma os acordes imortais de “O GUARANI”.
Pouco sabemos ou bem pouco se difundiu da multidão de obras do genial patriota, cuja vida, por igual, a quase todos é despercebida. E consagro estas linhas a Carlos Gomes, para que os leitores se inteirem de que nem só de glórias viveu!
À semelhança de muitos dos seus pares, sofreu privações e privações, sustentado apenas pelo amor de sua música e de sua família, os olhos fitos na Pátria. Amargou injustiças a que opôs a grandeza de uma vontade resoluta e firme. Pelo temor de morrer longe do torrão natal e deixar a prole ao desamparo, tentou em vão obter do governo uma pensão. Lauro Sodré, governador do Pará, compreendendo-lhe os anseios e aflições, concedeu-lhe, num gesto de patriótica benevolência, o cargo de diretor do Conservatório de Música do Pará. Pode, assim, o imortal brasileiro exalar em terra do Brasil o derradeiro alento.
Curiosos e elucidativos são os seguintes trechos de cartas suas, dadas a público por Carlos Maul:
“A minha música é, como todas as outras, escrita sobre as cinco linhas do costume. Você sabe que um sucesso também depende da ‘vil moeda’, que não possuo senão para acudir às necessidades diárias de meus filhos… Deus sabe como vivo aqui. Tendo liquidado minhas dívidas antigas, contando com a pensão do atual governo, fiquei seriamente logrado.
A empresa do Scala só me dá a quantia de três mil francos e fica com o direito, na Europa, e metade do lucro futuro da ópera. Somente para o Brasil eu fico proprietário absoluto da impressão da ópera para canto e piano, e das representações teatrais. Pensei em vender o direito da impressão a algum editor do Rio, para fugir do monopólio do Ricordi, com quem não estou hoje muito contente. Tive, porém, nova desilusão ultimamente com os editores do Rio, que me recusaram dar 5005000 por 12 peças de músicas novas, que para lá mandei. O Bevilaqua ofereceu Rs. 3505000, mas o Arthur, depois de tê-las meses em casa, devolveu-as não sei com qual pretexto.”
Das palavras acima bem se deixa ver a penosa situação financeira de Carlos Gomes. É ainda da mesma carta:
“E que fazer? Se escrevo óperas e vendo-as aqui, não dão para viver; se vou para o Rio com um ‘Escravo’, faço a fortuna de um Muzella e tomo descomposturas dos jornais, voltando para a Itália na mesma.”
Tal carta foi dirigida, em 1890, ao Visconde de Taunay.
Quando Carlos Gomes estava para regressar ao Brasil, escreveu a Teixeira Gomes:
“Levo para minha terra mais esta ópera nacional, ‘COLOMBO’. Só deste modo posso responder aos generosos deputados que me negaram a pensão.”
Solicitara este benefício por motivo de sua saúde e em face da perspectiva de morrer na Itália, deixando a família sem amparo.
André Rebouças, vendo Carlos Gomes passar por Lisboa, a caminho do Brasil, graças ao mencionado gesto de Lauro Sodré, exclamou:
“Carlos Gomes é um espectro!”
Eis uma face da vida de Carlos Gomes, menos conhecida, por certo, do que “O GUARANI”.
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Testamentos Curiosos
Por Ta B. Leão
Um telegrama da Reuters aparecido em “O Globo”, de 3 de janeiro do corrente ano, dava-nos conhecimento de que o engenheiro Norton Shirks, ao morrer, legara todos os seus bens a um galo de estimação e que, pouco tempo depois, o dito felino desaparecera misteriosamente, talvez por obra dos parentes do falecido que assim contavam entrar na posse da herança.
Não são de hoje, nem apanágio da extravagância norte-americana, estes legados fora do comum. Em todos os tempos e em todos os países, tais originalidades se registraram, algumas das quais fundamentadas em sentimentos louváveis.
Além disso, vão alguns casos como exemplo:
Por Gratidão a Um Cachorro
Em 1805 falecia em Knightsbridge um cidadão inglês de nome Borkey. Aberto o testamento, verificou-se que deixava uma pensão alimentar de 25 libras a cada um dos seus quatro cachorros, ordenando ainda que o busto de cada um deles fosse esculpido e colocado em seu túmulo. Os motivos deste estranho testamento eram óbvios, de acordo com a narrativa que o próprio Borkey fizera em vida. Certa vez, viajando pela Itália, fora atacado por salteadores que quase lhe tiraram a vida, não o fazendo graças à providencial intervenção de um cachorro. Grato ao animal, Borkey levou-o para sua pátria, onde o tratou com grande carinho, e morto o bicho, continuou devotado aos descendentes do mesmo, que vinham a ser os quatro animais contemplados no testamento. Alegava Borkey que, enquanto os homens lhe tentaram tirar a vida, o animal o salvara.
Por Despeito Pelos Homens
Se o caso de Borkey foi a gratidão, neste que vamos narrar foi um sentimento menos louvável. Eis o testamento, nos próprios termos em que foi feito, de uma certa dama de qualidade, na França, há cerca de um século:
“Considerando que meu cachorro foi o mais fiel de meus amigos, faço-o meu executor testamentário e confio-lhe a disposição de toda a minha fortuna. Tenho muito a queixar-me dos homens. Não valem nada, nem moralmente, nem fisicamente. Meus amantes eram fracos; meus amigos falsos e pérfidos. De todas as criaturas, somente em meu cachorro reconheci algumas boas qualidades. Quero, pois, que ele herde meus bens e que sejam distribuídos legados àqueles que recebam as suas carícias.”
Outros Animais Contemplados
O conde de La Mirandole, ao morrer em Lucques, em 1825, deixou toda a sua fortuna a uma velha carpa, que mantinha há 20 anos num tanque, em sua propriedade.
O Dr. Christian, que foi decano da Faculdade de Direito de Viera, deixou em testamento a bonita soma de 6.000 florins para a manutenção de seus três cães.
Neste gênero poder-se-iam citar centenas de casos. Vejamos, todavia, outra espécie de testamentos curiosos.
Alegria Depois Da Morte
Há quem não goste das lágrimas e das lamentações, mesmo depois de morto, ainda que sejam a seu respeito e em sua saudade. Nessa conta estava o pintor holandês Martin Heimskerk que viveu no século XVII. Este extravagante artista deixou em testamento uma quantia destinada a dotar, todos os anos, uma rapariga da aldeia onde nascera, mas com a seguinte condição: ela e o noivo, no dia do casamento, deveriam ir dançar, juntamente com os convidados, sobre o túmulo do doador.
Existiu em Lião, em meados do século passado, um comerciante francês que abundava nas mesmas ideias. Segundo noticiou o “Courrier de Lyon”, dessa época, tal cidadão, antes de suicidar-se, deixou um testamento mais ou menos nestes termos: uma soma de 500 francos devia ser dividida entre todas as pessoas que acompanhassem o enterro, a qual seria gasta num festim, onde os seus numerosos amigos bebericariam alegremente à sua memória. Ademais, uma renda de 50 francos era destinada a todos os sobreviventes para ser gasta em libações no aniversário do enterro. A primeira cláusula do singular testamento, noticiou o jornal citado, foi religiosamente cumprida. Oitenta e três convivas reuniram-se num restaurante no Brotteaux, sendo os 500 francos (quantia elevada na época) gastos inteiramente em bebidas, apenas lamentando os presentes serem obrigados a beber à memória do legatário e não à sua saúde.
Ironia De Marido
Ao falecer, em Londres, no ano de 1791, certo cidadão deixou o seguinte testamento:
“Considerando que tive a infelicidade de ter por esposa Elizabeth M… que, desde nosso casamento, me atormentou de todas as maneiras: que, não contente de zombar de minhas ordens, fez tudo que lhe foi possível por tornar a vida um fardo pesado; que o céu não parece tê-la enviado a este mundo senão para me fazer desaparecer mais depressa; que a força de Sansão, o gênio de Homero, a prudência de Augusto, a habilidade de Pirro, a paciência de Jó, a sutileza de Aníbal, a vigilância de Hermógenes não seriam suficientes para domar a perversidade de seu caráter; que nada neste mundo podia fazê-la mudar, pois que vivemos separados 8 anos sem que eu ganhasse outra coisa que a perda de meu filho, que ela corrompeu, e que me abandonou totalmente, graças aos seus conselhos; pensando maduramente e atentamente todas estas considerações, tenho legado e lego à dita Elizabeth M… minha esposa – um shilling.” E naturalmente em adendo:
“Lego à minha esposa 500 guinéus, dos quais não poderá dispor senão após a sua morte; dessa maneira ela terá meios de se fazer enterrar honrosamente.”
Transformado Em Pele De Bombo
Mas o mais original é talvez este, atribuído a João Ziska, o famoso chefe dos hussitas. Ao morrer, em 1424, diz uma lenda, que ordenou que tirassem a pele para com ela fazerem um tambor, dizendo aos seus compatriotas:
– Basta o ruído para espantar os vossos inimigos e fazer com que conserveis as vantagens que minha coragem vos proporcionou.
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As 12 Regras Das Boas Relações
Erwin H. Schell em “The Technique of Executive Control” dá as seguintes Regras, para bom andamento do trabalho, destinadas em particular aos chefes de serviços:
- Mantenha íntima e clara compreensão dos limites em que começam e terminam a autoridade e a responsabilidade de cada um;
- Quando tiver críticas a fazer, mantenha estritamente o hábito de apresentá-las habilmente, com cordialidade e somente ao próprio colega em particular;
- Não critique seu colega sem conhecer perfeitamente as funções dele e o modo pelo qual está desempenhando suas responsabilidades;
- Antes de criticar, verifique cuidadosamente se você também não está em erro;
- Se as suas relações com outro chefe são tensas, procure deliberadamente multiplicar os contatos, a fim de estabelecer uma compreensão mais íntima e recíproca;
- Resolva pessoalmente suas dúvidas com outros encarregados de serviço, isto é, de chefe para chefe, por exame direto do assunto ou mediante entrevistas não formais. Se você se serve de memorando para guardar um registro, arrisca-se a não ser compreendido, porque a palavra escrita facilmente parece mais fria e hostil;
- Aceite, solicite mesmo, de tempos em tempos, sugestões de outros chefes de serviço, seus colegas, de modo a obter a vantagem de suas observações sobre o trabalho que você realiza;
- Aceite sempre toda a responsabilidade por seus erros e pelos erros de seus subordinados;
- Não insista com o colega que demonstra convicção arraigada ou teimosia sobre determinado assunto;
- Consinta algumas vezes que outro colega seja o patrocinador de uma ideia sua, a fim de obter o auxílio dele para a finalidade que você tem em vista;
- A lealdade e o espírito de corpo que você criar dentro de sua seção não devem se desenvolver ao ponto de tomar precedência sobre a lealdade mais extensa devida aos interesses da organização como um todo;
- Dê ao seu colega a cooperação que desejaria receber dele.
Vista de Botafogo e Copacabana, tomada do Corcovado
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Um Passatempo Fascinante: A Caçada Aos Erros De Revisão
Por A. GIL
Existiu há anos passados no Rio – antes dos tempos calamitosos da guerra e da furiosa alta do papel! – uma revista que instituiu singular concurso de catar erros de revisão, concedendo prémios àqueles que lhe enviassem os mais curiosos espécimes de “gralhas” ou “pastéis” tipográficos.
A ideia, se não original, era pelo menos interessante e pouco vulgar, e admiro-me que essa operação, que tantos atrativos oferece e tantas surpresas reserva, não se erigisse em passatempo (ou “hobby”, para usar um anglicismo agora tão em voga) entre certa classe de sujeitos que têm a mania das coleções e são capazes de “pescar” as mais estranhas coisas que porventura existam. Com efeito, são pouquíssimas as pessoas que se dão ao trabalho de recolher os dislates tipográficos, que os cochilos da revisão ou a premência do tempo deixam escapar nos jornais, nas revistas e até nos livros, o que é menos perdoável.
E entretanto – que gostosas surpresas, que contrastes de humorismo, que achados imprevistos não se topam na matéria impressa, agora principalmente, que à premência do tempo se vem juntar a negligência no trabalho! Que empolgante, que saudável passatempo para as tardes de domingo, depois do almoço, quando o sol lá fora deslumbra e torra, e a atmosfera pesada de calor paralisa o cérebro, adormece os sentidos e transforma o corpo numa usina destilatória…
De jornal ou revista na mão, recostado numa cadeira cômoda e fresca, as cortinas baixadas para atenuar a reverberação da luz, o cidadão, que já cumpriu o seu dever de eleitor e aguarda, pois, em paz e confiado, que lhe sejam resolvidos os problemas da água, dos transportes e da carestia, vai folheando com displicência e preguiça as folhas impressas. De repente firma a vista, sacode o torpor, larga uma tremenda gargalhada, pousando nos joelhos a publicação para melhor sacudir as mandíbulas.
Do quarto, a patroa, que aproveita o sossego dominical do pós-almoço para arrumar a penteadeira, superpovoada de frasquinhos, caixinhas, porta-retratos e outras bugigangas de transcendente importância, pergunta intrigada:
– Que é isso, Zeca?
Achei, Lelé… achei um… ótimo!… Formidável!… Onde é que diabo anda o meu lápis vermelho?
D. Lelé aproxima-se curiosa, trazendo o lápis.
Pronto… Mas o que é que achaste?
Um erro de revisão, meu bem… Formidável… Vê só.
D. Lelé passa a vista no periódico. Lê o que o dedo vibrante do marido lhe aponta. Levanta a vista, encara o Zeca com um olhar de admiração, glorificando-o por tão sagaz descoberta, e sintetiza suas impressões nesta profunda palavra:
– Engraçado!
O marido, satisfeito, volta a pegar no periódico e prossegue na fascinante caçada. E assim, se passa a tarde divertida, aliviando o peso de uma digestão laboriosa e as agruras da abafante canícula, sem gastar dinheiro, sem incomodar os vizinhos.
Três dos cruéis cochilos de revisão, citados no texto
Foi em algumas tardes assim que eu colecionava diversas preciosidades no gênero, que agora ponho à disposição da curiosidade do respeitável público, como se diz nos circos suburbanos. Devo confessar que não me considero um verdadeiro colecionador de tais gemas, e se aqui faço a apologia deste gênero de coleções é apenas com o fim humanitário de divulgar um passatempo são, inocente, barato (e barato!) e… gostoso, como diz D. Lelé na sua profunda e nítida percepção das coisas deste mundo, e somente deste, pois, felizmente, não é espírita, nem entende de psicanálise. Do contrário, emprestaria intenções ocultas ou subconscientes aos linotipistas e aos revisores.
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Em maio de 1944, um dos nossos vespertinos divulgou um telegrama da guerra na frente italiana, noticiando a travessia dos rios Rapido e Garigliano pelas tropas aliadas. Depois de referir-se ao trabalho de estender pontões, debaixo de terrível fogo inimigo, diz textualmente: “Todos ornamentos dos rios, ao contrário do que se supunha, foram afastados com, relativamente, pequeno número de baixas”.
Ora aí está mais uma arma defensiva medíocre para juntar às muitas aparecidas no grande conflito. Isso de ornamentar os rios para defendê-los do inimigo não lembraria nem ao “estado maior”. Tenentes do Diabo!…
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Após a morte do Dr. Linneu de Paula Machado, foi colocada no Jockey Clube uma placa de bronze com o nome desse benemérito “Turtman”. Ora, essa placa tinha sido ofertada pela Fundição Cavina, firma especializada em tais trabalhos. Ao rever as provas da notícia que ia dar sobre a inauguração, com referências à firma ofertante, o secretário de certa revista de “turí” encontra este erro: Fundição Canina. Alarmado (pois parece que, além disso, o artigo era matéria paga pela dita fundição), emenda e chama a atenção do chefe da composição para a “gralha”, que era fácil de passar, pois a diferença era só de uma letra. A matéria já estava paginada e prestes a entrar em máquina.
Vá descansado… Não tem perigo, responde-lhe este, não sem um sorriso meio irônico a iluminar-lhe o rosto magro de traços bem vincados.
Ao outro dia, volta o secretário, e, pelo sim pelo não, apanha uma prova de máquina do original prestes a rodar. Procura ver se a emenda fora feita. Realmente fora, mas desta forma ainda mais perfeita: Fundição Canina.
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De um telegrama noticiando um conflito político no Chile, durante um comício em que a Polícia Militar teve que intervir: “Outros carabineiros caíram também feridos e estão os demais usaram suas armas para repelir o ataque, guiados apenas pelo Instituto de Defesa.”
“Instituto de defesa”!… Eis aí uma coisa que nenhuma das nossas numerosas polícias possui, malgrado a “defesa” entre nós ser um fato.
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Esta vai sem comentários e com o devido respeito ao morto e à sua família. Noticiando o falecimento de um cavalheiro, cujo nome de família era Sardinha, depois de repetir várias vezes esse nome com referência ao falecido e aos parentes que deixava, findou o noticiarista a nota com o clássico fecho: “A família enlutada, etc…. mas a revisão cochilou, e saiu esta coisa incrível: “A família enlatada…”
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Vejamos agora este, que não é propriamente um erro de revisão, mas talvez uma falha da emendação, ou até mesmo um caso de espirituosa má intenção. Em outubro de 1945, um telegrama da 1ª N. 5. continha como Bevin e Molotov, durante uma conferência havida em Londres, tinham constantemente terríveis discussões. A notícia irá em “contendas e cenas furiosas”, na reunião da última semana. “Quando, acrescenta textualmente o telegrama, o titular do Foreign Office empregou uma linguagem mais vigorosa.
…bSCsbACda?EZ-baôK FeRác m”.
Esta última linha, que vinha tal qual e nessa mesma posição, é naturalmente uma forma abreviada e recatada de reproduzir a “linguagem vigorosa usada pelo estadista inglês, a fim de não ferir o pudor dos leitores delicados.
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Um telegrama da Reuters, publicado num vespertino carioca de 12 de agosto de 1943, narrava um tratamento novo e rápido dos estados de “shock” num dos hospitais de Londres. A certa altura, lê-se: “Logo que a ambulância chega, o paciente é colocado diretamente na mesa de operações onde recebe o anestésico”.
Essa ideia de receber o anestésico causou sensação entre os fãs do famoso humorista do Rádio carioca que, por sinal, ignorava estar desempenhando, tão longe daqui, essas generosas funções. E não resta dúvida que, como “bola”, é digna do Dr. Anestésio.
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Esta, como se verá, poderia ter consequências graves… Título de um artigo sobre o fomento do comércio entre o Brasil e o Uruguai, numa revista de economia de São Paulo, em maio de 1943: “As possibilidades do mercado uruguaio para a variada produção brasileira”! Felizmente não passou de uma gralha tipográfica.
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Mas também as datilógrafas, essas gentis criaturinhas de ágeis dedos e unhas curtas (felizmente!) cometem das suas. Aqui vai uma para comprovação.
Vicente Themudo Lessa, pai do conhecido escritor Origenes Lessa, certa vez mandou datilografar os originais de um trabalho seu intitulado “Mauricio de Nassau, o brasileiro”, onde havia este período: “Felipe Camarão tinha o hábito de Cristo e foro de fidalgo”. Num desacato evidente à Ordem de Cristo e ao herói dos Guararapes, a datilógrafa interpretou o período assim: “Felipe Camarão tinha o hálito de Cristo faro de fidalgo”!
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Chamar fluorescente a um estado é dessas hipérboles que não lembraria nem à… General Electric nos seus anúncios de lâmpadas. Foi quem a fizesse. Num comunicado mimeografado distribuído por uma agência interamericana, há poucos anos, sob o título “Minas Gerais – Califórnia do Brasil”, lia-se este original e ultramoderno subtítulo: “Os vastos recursos do fluorescente Estado brasileiro, apreciados pelos cientistas norte-americanos”.
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E esta para findar. Leio numa pequena notícia de um jornal do interior este nome: “Padre Sudário Mendes”. Ora aí está um nome coerente com a carreira e um sacerdote bem “nomeado” para encomendar defuntos.
Mas será mesmo erro de revisão?
E por falar nisso… Desculpem se este artigo saiu com alguns.
MATÉRIA
Conferência Distrital Dos Rotary Clubs
De Rota Ariano
Impressões de Viagem e Desse Magnífico Conclave Realizado Em Caxambu
Para assistir à 18ª Conferência Distrital dos Rotary Clubes do Brasil, a realizar-se de 21 a 26 de abril, partimos para Caxambu, a formosa estação hidro-mineral mineira, onde a mesma teve lugar, dois dias antes.
De passagem por Volta Redonda, onde almoçamos, tivemos o feliz ensejo, graças à gentileza da superintendente geral, engenheiro Korb, de visitar a usina de laminação, parte desse magnífico empreendimento que é a Companhia Siderúrgica. Aí pudemos constatar encontrar-se a citada usina em pleno funcionamento e produzindo, na realidade, em grande escala, chapas grossas, cantoneiras de várias dimensões e outros tipos de material de aço.
De Volta Redonda dirigimo-nos a Resende, onde nos foi dado divisar a imponente sede da Escola Militar das Agulhas Negras. Daí escalamos, de automóvel, a serra da Mantiqueira, atingindo mais de 1.700 metros de altitude, deslumbrando-nos com o soberbo panorama do sistema do Itatiaia.
Ao chegar a Caxambu, um dia antes da abertura do conclave rotariano, logo sentimos o ambiente de expectativa que envolvia a linda estância hidro-mineral, situada a 932 metros de altitude, e cortada, em toda a sua extensão, pelo Bengo, afluente do Boependí.
Toda a população esperava, com certo alvoroço, a chegada, no dia seguinte, do “trem da alegria”, comboio especial que levava mais de 500 rotarianos e suas famílias, vindos de todas as partes do Brasil.
E com efeito: a chegada dos rotarianos foi um acontecimento festivo de grande repercussão. Vasta massa humana os foi esperar à estação, proporcionando-lhes uma vibrante manifestação, onde a alegria e o entusiasmo se externavam com a maior espontaneidade.
Entre foguetes e aplausos desembarcaram os rotarianos e entre foguetes e archotes, numa linda e alegre “marche-aux-flabeaux”, foram até aos hotéis onde se hospedaram, cercados pelo carinho do povo e dos rotarianos locais.
No hotel Glória, que cedeu suas magníficas instalações para nelas se realizar a Conferência, caprichosamente preparado, foi instalada a “Casa da Amizade”.
Não nos compete alongar com respeito aos trabalhos do conclave. O assunto já é bem conhecido dos rotarianos através do amplo noticiário que teve em todos os Estados. Tanto os debates como a parte social e esportiva decorreram no meio da maior cordialidade e brilhantismo, muito contribuindo para isso a presença de elementos do mais alto destaque em nosso mundo oficial, econômico, financeiro e social, como o nosso companheiro Carlos Luz, representando o Chefe da Nação, o Secretário de Agricultura de Minas Gerais, representando o Governador do Estado, o rotariano do Peru, dr. Jorge Zegarra, representando o Rotary Internacional, e muitos outros.
Foram apresentadas e discutidas na Conferência as seguintes teses: “Rotary e Política”, “Estatuto e Regimento do Rotary”, “Sócio correspondente”. Maneira de resolver a situação de ex-rotariano involuntário”, “Redistritamento do Distrito 29. – Possibilidades de um Distrito internacional nas fronteiras do Brasil, Argentina e Uruguai”, “Rotary Brasileiro”, “Ética e serviços profissionais” e “Como o Rotary trabalha”.
O programa social incluiu, entre outras coisas, vários almoços e jantares de confraternização, um baile, um “cocktail” e o plantio da “árvore da amizade”; o esportivo compreendeu provas de natação, tênis e vôlei, com taças aos vencedores, havendo ainda uma parte artística, que consistiu de um concerto pelo pianista Egydio de Castro e Silva.
Entre os assuntos tratados na Conferência, é justo destacarmos o referente à realização, em maio do ano próximo vindouro, da Convenção Internacional, cuja sede será o Rio de Janeiro. Nesse sentido, foram acuradamente estudadas as providências a tomar para assegurar-lhe o melhor êxito.
Devemos salientar que, pela primeira vez na história do Rotary, é uma cidade sul-americana escolhida para local de tão alto e expressivo conclave, cabendo essa honra à capital brasileira.
Desnecessário se torna encarecer a elevada importância que tem para o Brasil a realização da Convenção em apreço no Rio de Janeiro. A ela comparecerão homens de grande projeção econômica e financeira de vários continentes, os quais aqui virão conviver conosco por alguns dias, tendo assim ocasião de observar de perto o nosso desenvolvimento e as grandes possibilidades do nosso país, fato esse do qual auferiremos, por certo, bons resultados.
Novo Produto Têxtil
Londres, 8 (B. N. S.) Foi inventada uma nova fibra em nosso país, fato esse de que auferiremos, por naturais ou artificiais. Esta fibra, conhecida como “terylene”, deriva do ácido tereftálico e do etileno glicol, duas substâncias inteiramente sintéticas. Tem grande resistência ao calor e à luz e pode ser facilmente tecida ou trançada. Os tecidos produzidos com “terylene” parecem-se mais com a seda do que com a lã, mas as suas propriedades são muito diferentes das do “rayon” e do “nylon”. Podem ser lavadas e passadas a ferro sem precauções especiais.
Grupo de rotarianos que tomaram parte no conclave de Caxambu, onde se vê o Sr. Donald Lowndes
MATÉRIA
Expande-se a Cruzeiro Do Sul Capitalização
A Novel e Vitoriosa Empresa Privada Inaugurada Na Bahia
O reverendo padre Felix Barreto quando da lançava a benção na sucursal de Pernambuco, no dia da sua inauguração
A pronta e larga aceitação que tiveram no Rio e São Paulo os títulos do Cruzeiro do Sul Capitalização confirmou plenamente o conceito de idoneidade desfrutado por seus diretores, bem assim como a excelência dos seus planos. Esse auspicioso fato levou seus diretores, como era natural, a cogitar na abertura de outras sucursais para melhor servir os subscritores. Assim, foram inauguradas as sucursais do Recife e de Salvador, das quais somos notícia nesta e nas seguintes páginas.
Teve lugar a 12 de abril a inauguração da sucursal de Recife. O ato revestiu-se de toda a solenidade e teve grande assistência, comparecendo pessoas da mais alta e expressiva representação das esferas sociais, bancárias, seguradoras e comerciais, assim como da alta sociedade recifense.
Grupo de pessoas representativas da praça e da Sociedade de Recife, que assistiram à solenidade. Ao centro, o Sr. Donald Lowndes
A fim de representar a diretoria da Cruzeiro do Sul foi especialmente a Recife o Sr. Donald de Azambuja Lowndes, acompanhado de sua esposa, D. Dalva Aguinaga Lowndes.
O ato inaugural iniciou-se com bênção das instalações pelo padre e deputado Félix Barreto que, em brilhante improviso, falou sobre a iniciativa da Cruzeiro do Sul, assegurando-lhe o melhor êxito. Em seguida, foi servido um fino “lunch”, findo o qual, ao champanhe, teve a palavra o sr. José Alberto Resende, inspetor geral no Norte, sob cuja responsabilidade está a sucursal.
Iniciando a sua oração, disse o sr. Resende: “Pernambuco vem sendo, por força de sua posição geográfica e pelo labor do seu povo, uma autêntica expressão da capacidade da gente brasileira no Norte do país.
Sua tradição histórica e o ritmo ascendente das suas atividades econômicas, demonstram que este Estado conquistou, pelo trabalho e pela inteligência dos seus filhos, um plano de prosperidade e de supervisão espiritual que certamente não lhe será arrebatado, pelo menos em futuro próximo, por nenhuma outra unidade da comunhão nacional”.
Prosseguindo, alude ao progresso moral e material que, num crescendo vertiginoso, se vem registrando no Estado e referindo-se à presença do sr. Donald Lowndes, diz textualmente:
“Senhores! Está aí porque se explica e bem se justifica a presença honrosa, entre nós, do vice-presidente da Organização Lowndes e de sua exma. senhora. Este, porque este ilustre brasileiro, cuja vida se tem traçado ora no estrito serviço da Pátria, quando figurando no quadro dos mais brilhantes oficiais da nossa Marinha de Guerra, ora a serviço direto da coletividade, impulsionando o seu comércio e a sua indústria, por isso que dirige a Organização Lowndes, em cuja equipe se entrosam nada menos de doze grandes e prósperas empresas bancárias e industriais. Aqui se encontra, ampliando e atualizando a iniciativa do seu venerando pai, sr. Vivian Lowndes, na qual também cooperam figuras destacadas como integrantes de sua Diretoria, a exemplo dos Srs. Ribas Carneiro e Roberto Vayssière, valores expressivos da atualidade econômica brasileira”.
Ainda referindo-se à figura dinâmica do Sr. Donald Lowndes, prossegue o orador:
Pernambuco é o terceiro Estado, após o Distrito Federal e São Paulo, que recebe as alvíssaras de sua visita e com ela também o lançamento da Cruzeiro do Sul Capitalização, que representa um esforço incontestável e uma ajuda à economia coletiva nacional e um baluarte para a economia pernambucana dentro em pouco. Estamos certos de que a nossa população compreenderá o que a capitalização representa como meio positivo para o fortalecimento e desenvolvimento das suas reservas de trabalho e capital, considerando sobretudo que a Cruzeiro do Sul Capitalização emerge de uma sólida base financeira, projetada ainda pelo conceito inexcedível dos seus dirigentes, onde sobreleva o vulto do seu vice-presidente, aqui nos honrando com a presença, o Sr. Donald de Azambuja Lowndes, que é uma tradição e uma garantia das atividades econômicas nacionais.
Edifício “Ao anel de ouro” à Rua Nova, 200, em cujo 2. andar foi instalada a Sucursal da Cruzeiro do Sul Capita lização em Pernambuco
Fala O Sr. Donald A. Lowndes
Cessados os aplausos ao orador precedente, falou então o sr. Donald de Azambuja Lowndes, o qual se expressou assim:
“Há pouco menos de um semestre, iniciou a Cruzeiro do Sul Capitalização suas atividades em sua Sede Social no Rio de Janeiro, estendendo-se em seguida pelo Estado de São Paulo, onde vem logrando magníficos resultados pela boa acolhida que tem encontrado por parte de numeroso público.
A Organização Lowndes, da qual faz parte a Cruzeiro do Sul Capitalização, já tem, neste próspero Estado de Pernambuco, uma ampla vinculação, pois vem colaborando há vários anos com seus esforços para o progresso deste florescente mercado do Nordeste brasileiro, através das companhias de seguros Sagres, Cruzeiro do Sul e London Lancashire, representada pela importante firma desta praça, os senhores Othon Bezerra de Mello & Cia.; Companhia de Seguros Imperial, representada pelos srs. Lemos & Cia. e London Assurance, representada pela firma Kunhi Tecidos S.A.; as quais encontraram sempre o mais decidido apoio dos previdentes que desejam acautelar seus bens.
A capitalização é o acúmulo de pequenas quantias, metodicamente economizadas e de valor uniforme, compreendendo, assim, um sistema e uma perseverança.
De outro lado, a economia, embora metódica, mas em quotas diferentes, não traz a organização íntima do economizante nem pode ser objetivada como parcela orçamentária dos ganhos advindos do trabalho.
Dai a ideia dos grandes organismos arrecadadores e multiplicadores, que são as empresas de capitalização, as quais, sem caráter de caixas econômicas ou mecanismos de chance, como sintomaticamente se representam a alguns, destinam-se a contribuir para a metodização da economia popular.
Faz ainda o Sr. Donald outras considerações igualmente relevantes sobre a organização que dirige e conclui dirigindo a todos os presentes à solenidade e ao povo pernambucano sinceras saudações e votos de felicidade, terminando sob gerais aplausos.
Uma vista de Recife: a Ponte Duarte Coelho
As Pessoas Presentes
Entre as muitas pessoas presentes ao ato, cujos nomes pudemos registrar, estiveram dr. João de Deus Oliveira, secretário da Agricultura; dr. Amauri Costa Pinto, representante do prefeito; deputado padre Felix Barreto; comandante Rogério Coimbra, vice-presidente do Instituto de Resseguros do Brasil; dr. Mário Melo, vice-presidente do Conselho Administrativo do Estado; dr. José de Goes Filho, diretor do Expediente da Secretaria da Agricultura; deputado Deocleciano Pereira de Lira, dr. Zizenando Carneiro Leão, presidente do Sindicato dos Engenheiros; coronel Germano Kergman, Cicero Correia, Silvio Martins, representante da Sul América Capitalização; Marcolino Gonçalves, Eugénio Melo, da Companhia Internacional de Seguros; Amaurico Costa, dr. António Figueira, diretor da Assistência Hospitalar; representantes dos Bancos do Povo, Indústria e Comércio; dr. Mauricio Coutinho, engenheiro civil, dr. Oscar Coutinho, representantes da Aliança da Bahia e do Banco Auxiliar do Comércio, A. Lopes Neto, assistente da diretoria da Cruzeiro do Sul Capitalização, que veio especialmente assistir ao ato de instalação, e numerosas famílias.
A sucursal de Recife da Cruzeiro do Sul Capitalização está instalada no 2.º andar do Edifício “Ao anel de ouro”, na Rua Nova, 200.
A Inauguração Da Sucursal De Salvador
Verificou-se a 10 de maio a inauguração da sucursal da Bahia, que se acha instalada no Edifício Wilberger.
A solenidade teve grande e seleta assistência, notando-se entre os presentes os representantes dos STs, governador do Estado, prefeito da Capital, secretário do Interior, secretário da Segurança Pública, comandante do Corpo de Bombeiros, Arcebispo Primaz, diretores da Viação e Obras Públicas, Viação Ferroviária Federal Leste Brasileiro, Delegado Regional do Departamento Nacional de Seguros Privados e Capitalização, diretores de bancos, representantes das companhias congêneres, representantes da imprensa e do alto comércio, senhoras e senhorinhas da sociedade.
Com a bênção da sede pelo rev. padre Antonio Monteiro, representando o sr. Arcebispo Primaz, teve início a festividade. Seguiu-se a palavra do sr. José Alberto Resende dos Santos, chefe de produção do setor norte do Brasil, o qual faz as mais justas e elogiosas referências à Bahia e ao seu povo progressista, ampliando-se em considerações sobre o significado da solenidade.
Então, teve a palavra o sr. Nestor Ribas Carneiro, que fora especialmente do Rio para assistir à inauguração, juntamente com o sr. A. Lopes Neto, assistente da diretoria. O sr. Ribas Carneiro proferiu a seguinte oração:
“O Estado da Bahia, sua Capital, seu povo e suas tradições despertam na alma de todo brasileiro tantas evocações de fé, de esplendor, de arte e de cultura que, ao apresentar-lhes, em nome de sua Diretoria, a Cruzeiro do Sul Capitalização, experimento uma particular satisfação, cujo motivo, sem dúvida, está no irresistível sentimento de confiança que inspira a tendência tradicionalista, característica primordial do povo baiano. Característica interessante essa, que tem suas raízes profundamente lançadas e ancoradas no passado, num passado glorioso que se estende até o descobrimento; característica simpática essa, que se estreia no culto da tradição, no amor à terra, no respeito aos costumes, na veneração do legado das gerações findas; característica promissora essa, que escora sua estabilidade nas sólidas bases de um patrimônio, no qual as forças morais dominam e controlam as expansões do domínio do material.
A Cruzeiro do Sul Capitalização vem se firmar ao lado de empresas mais antigas no ambiente baiano. Ela deseja desempenhar a verdadeira missão que lhe cabe, a de divulgar o valor, a utilidade, a necessidade da economia sistematizada na forma até certo ponto agradável, em sua prática pelo processo característico da capitalização, participando dos lucros da sociedade e amortizando antecipadamente os valores subscritos. Ela deseja colaborar na nobre missão que vem a ser, para a economia nacional, a constituição, pela poupança, de reservas que são os mais sólidos alicerces do patrimônio ativo do Brasil: alicerces no sentido de garantias reais e concretas da estabilidade da produção industrial e agrícola, da moeda e, por consequência, das condições de vida da família brasileira.
O bom acolhimento que esperamos, por parte da população desta bela, rica e acolhedora cidade do Salvador, depende muito de nós, do plano que apresentamos, dos colaboradores que já arregimentamos, da nossa participação administrativa, cuja missão será dar às pessoas que nos honrarem com sua confiança as devidas provas de uma merecida gratidão.
A este efeito, depositamos nas mãos do Sr. José Alberto Resende dos Santos a nossa confiança, seguros de suas possibilidades profissionais e de suas reconhecidas qualidades morais, aliadas ao seu fino tato no comando da valiosa equipe de homens que, tão brilhantemente, vem empregando o melhor dos esforços no sentido de divulgar ao povo brasileiro a ideia da economia através da capitalização.
A Cruzeiro do Sul Capitalização, a mais nova das 12 empresas que compõem a Organização Lowndes, olhará com particular carinho para sua Sucursal do Salvador.
Em nome da Diretoria, tenho sincero prazer em agradecer a todas as pessoas presentes, que contribuíram para dar a este ato inaugural uma solenidade que, pessoalmente, me comove e constituirá uma das belas recordações de minha existência.
Declaro, pois, inauguradas as instalações desta Sucursal. Muito obrigado.
A benção da Sucursal da Bahia, no momento da sua inauguração
MATÉRIA
Reparos & Flagrantes
Antonio Gil
Aquela encantadora criatura tinha uns olhos tão fulgurantes que era obrigada a usar óculos pretos nas noites de “black-out”.
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Seus cílios, longos e revirados, eram como baterias antiaéreas sempre apontadas para o ar. Por isso mesmo, nunca me aproximei muito dela, com receio de ser abatido.
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O cidadão em questão era tão apegado ao dinheiro que, para poupar 35 óculos, tinha o hábito de olhar só com um olho de cada vez.
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Tão frio e penetrante era o olhar daquele célebre detetive que não se podia fitá-lo por muito tempo sem o risco de pegar um resfriado.
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Ele era um comunista tão convicto, tão devotado a Karl Marx, que adorava “O Capital”. O trabalho, esse… deixava-o para os outros.
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Todos lhe diziam: “Você tem uma saúde de ferro!” Por isso mesmo, ele não se atrevia a tomar um banho, com receio perene de se enferrujar.
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Tinha um porte tão marcial, andava tão ereto e duro, que dava a impressão de ter engolido uma espada. Eis a razão pela qual nunca aceitei almoçar com ele.
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Tão apaixonado e ardente era o temperamento daquela soberba morena que não podia entrar num automóvel sem risco de fazer explodir o tanque de gasolina.
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Aquele médico era tão prudente e zeloso de sua reputação que se negava a receitar para doentes graves, com medo de apressar-lhes a morte. E só assim morreu célebre e respeitado.
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Tão convencida estava ela de que seus dentes eram como pérolas que, num dia de apertos, surpreendeu-se a si própria oferecendo-os a uma casa de penhores.
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Aquele honrado comerciante… Qual!… Era tão amigo de servir depressa seus fregueses que, para fazer baixar mais rapidamente o prato da balança onde punha a mercadoria, soldou por baixo um pedaço de chumbo. E ninguém compreendeu suas boas intenções.
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O jovem barítono tinha uma voz tão estrondosa que, para poder cantar no rádio, precisava ser amordaçado. E era talvez por isso que ninguém o ouvia.
MATÉRIA
O Sorteio Na Capitalização
René Brosar
Por um sorteio é determinado, mensalmente, o reembolso de certo número de títulos de capitalização.
– O que significa esse reembolso?
Como interpretar esse sorteio?
A palavra “sorteio” desperta a ideia de sorte… e de jogo?
– E a Capitalização, é um jogo?
– Tem o sorteio algum parentesco com a loteria?
Seguem-se alguns conceitos precisos acerca das perguntas acima.
No plano económico-financeiro de uma sociedade de capitalização, o “desideratum” de maior relevância consiste na necessidade de assegurar uma REGULARIDADE máxima no cumprimento do contrato ASSUMIDO PELO SUBSCRITOR.
Para conseguir essa indispensável regularidade, as sociedades de capitalização têm mantido amplos e bem organizados serviços de “cobrança”. Para conseguir a MÁXIMA regularidade possível na arrecadação das cotizações dos subscritores, elas foram levadas pela experiência a imaginar os reembolsos antecipados, os quais não têm outra finalidade que a de PREMIAR a PONTUALIDADE dos subscritores em geral, pela recompensa, positivada em forma concreta, de um ou outro subscritor escolhido pela SORTE.
Entre muitos que são merecedores do prêmio de pontualidade, o sorteio designa alguns beneficiados. Naturalmente, ficam eliminados da eventualidade de reembolso todos os subscritores que apresentem irregularidade no cumprimento do seu compromisso, pois isso milita a desfavor da melhor gestão da sociedade. Aliás, nada mais justo e equitativo.
Em resumo, o que se visa com ditos sorteios é a maior regularidade da clientela de capitalização nos seus depósitos mensais; melhor aproveitamento de fundos recolhidos; maiores possibilidades de vantagens, e, por conseguinte, maiores sorteios de amortização pelo MAIOR MERECIMENTO DOS PORTADORES DE TÍTULOS.
“O PRODUTO DO SORTEIO DE AMORTIZAÇÃO É UMA RECOMPENSA E NÃO O FRUTO DE UMA OPERAÇÃO DE JOGO.”
Por que o jogo tem como objetivo essencial a conversão do gasto inicial positivo de muitos no proveito final, aleatório, de poucos. O fato de o jogo da loteria, por exemplo, utilizar um sorteio para definir os beneficiários da conversão do pouco de muitos em muito para alguns poucos, não estabelece nenhum parentesco entre a capitalização e a loteria.
O jogo implica a noção de perda (inexistente em capitalização).
O jogo implica a noção de gasto (economia em capitalização).
O jogo implica a noção de desperdício (contrário à capitalização).
O jogo é um vício (capitalização é uma virtude reconhecida).
O jogo é condenável (a capitalização merece o maior apoio).
Por isso, equiparar sorteios de amortização mensais de capitalização com outros sorteios de jogo decorre de uma falsa ou errada interpretação dos verdadeiros fatos que a palavra “sorteio” encobre.
Um estudo talvez chegasse a provar que o custo do sorteio é inferior ao gasto que se faria para conseguir, por outros meios, a desejada regularidade nos depósitos. Nesse caso, ficaria patenteado que a carga de dito sorteio não representa um ônus para o subscritor, e sim um incentivo, da mais pura natureza, a esse valor moral que é a constância.
MATÉRIA
Notas Sociais
Sr. Rene Brosar
Sr. René Brosar
Registrou-se em 15 de maio, a passagem do aniversário natalício do Sr. René Brosar, Gerente Geral da Cruzeiro do Sul Capitalização, S.A.
Aproveitando o auspicioso momento, vimos por nosso intermédio render o tributo de nossa admiração e reconhecimento ao Colega e Chefe que eles consideram, por todos os títulos, como um mestre e um amigo.
Dotado de espírito criador e entusiasta, batalhador infatigável pelas causas que enobrecem a profissão, vem ele continuamente transmitindo a quantos o procuram a ciência de sua lógica e a justiça de seu critério.
Que Deus o conserve, gozando a paz e a felicidade entre seus entes queridos e o convívio sincero e amigo de seus colaboradores de todos os dias.
Justificam-se, pois, as homenagens que lhe foram prestadas e os votos de felicidade formulados, aos quais nos associamos.
Viajantes
Seguiu para Portugal, em viagem de passeio, a fim de visitar seus inúmeros parentes e amigos, o Sr. Ernesto Silva, operoso corretor de seguros de Lowndes & Sons, Ltda. Ao distinto viajante, o “Noticiário Lowndes” deseja uma feliz estada no país amigo e que brevemente esteja de volta, retornando às suas atividades.
—
Esteve em viagem ao Chile e à Argentina, Sr. Vivian Lowndes, que se fez acompanhar de sua Exma. esposa, D. Alexina de Azambuja Lowndes.
O nosso estimado presidente, ao regressar, declarou trazer as melhores impressões das repúblicas irmãs. O surto de progresso e as atividades comerciais e industriais desses países são motivos de justo orgulho para nós, brasileiros, e para todos sul-americanos.
—
Esteve na cidade de Recife, no mês de abril do corrente ano, o Sr. Donald Lowndes, a fim de inaugurar a agência da “Cruzeiro do Sul Capitalização”.
Ainda durante o mês de abril, o Sr. Donald Lowndes, acompanhado de sua esposa e filhas, esteve em Caxambu, onde tomou parte na 18ª reunião distrital do Rotary Clube do Brasil.
Casamento
Em 21 de junho realizou-se o casamento da senhorinha Wanda Dias Gonçalves, antiga funcionária da Organização Lowndes, com o senhor Darcy De Carlo, Secretário da Bolsa de Cereais.
Falecimentos
Com pesar registramos o falecimento do Sr. Domingos Manuel Maquieira, um dos mais destacados corretores de seguros da Cia. de Seguros Sagres. À sua Exma. família, nossos sinceros pêsames.
Controle Automático Nas Cozinhas
LONDRES. 21 (B. N. S.) Para satisfação das donas de casa, o controle automático elétrico, até agora só usado na indústria, se aplica também aos aparelhos de uso doméstico, como fornos elétricos, máquinas de lavar, torradeiras, aquecedores e refrigeradores.
As donas de casa que possuem cozinhas controladas termostaticamente não necessitam vigiar o termômetro, porque o termostato ajusta a temperatura de maneira uniforme ao nível desejado.
MATÉRIA
Curiosidades De Ontem E De Hoje
A origem De Albion
Albion, ou Albido, é o nome poético da Inglaterra e, segundo parece, o mais antigo das Ilhas Britânicas. A. Schulten, em artigo na revista “Minerva”, de Turim, explica desta maneira a origem desse nome:
O nome Albion aparece pela primeira vez num portulano grego do século VI a.C., conservado em tradução no “Ora Marítima” de Avieno. Este nome de população encontra-se na Galiza. O radical Albé é ligure. Os ligures vieram da África para a Espanha e, pelo norte, estenderam-se até ao Mar do Norte. Os Albiões devem ter vindo para a Galiza e, ao longo das costas, navegaram até à Inglaterra. Existem mais nomes comuns às duas regiões. O nome do rio Tamari, hoje Tâm- bre, também se encontra na Cornualha: Tamaros, hoje Tamar. O nome do rio Tâmisa vem de um antigo povo celta: os Tamagani. Esta coincidência etnológica é confirmada pela afinidade de civilizações, na idade do bronze, entre os dois países e, em particular, entre a Galiza e a Irlanda.
Si non é vero…
O Seguro De Fogo Em Portugal
Os primeiros seguros contra fogo, em Portugal, originaram-se no século XVIII. Em 1743, alguns homens de negócios, que em Lisboa faziam seguros marítimos, resolveram aceitar os seguros de prédios e de móveis, obrigando-se a reedificar as casas sinistradas e a pagar os móveis, em caso de incêndio. Os segurados pagavam de prêmio 20% sobre o rendimento anual.
Envelopes “Gostosos”
Lamber a goma dos envelopes para os fechar passará a ser uma operação gostosa, na verdadeira acepção da palavra, se a novidade lançada recentemente pela The Sheppard Envelope Co., de Worcester (Estados Unidos, está claro!) tiver aceitação… e pegar mesmo.
Essa imaginosa empresa está fabricando envelopes com a goma aromatizada com hortelã-pimenta. Chamam-se eles: “Flavor-seal envelopes” e o tema da campanha de anúncios com que foi lançada a novidade é este trocadilho, que não é possível em português: “Lick an envelope and like it”, ou seja: lamba um envelope e deleite-se com ele.
Não há dúvida que a ideia é sensacional e generosa. É tão desagradável o gosto da goma arábica! Só lhe vemos um inconveniente: não vão as datilógrafas que apreciam a hortelã passar a “consumir” tais envelopes dos patrões em vez de comprar balas…
Para Dar Trabalho Aos Próprios Dentes
Segundo uma recente estatística, os dentistas norte-americanos atenderam, no ano passado, a 30 milhões de clientes, fazendo 650 milhões de dólares em honorários.
É óbvio que esses bons profissionais fizeram bastante para dar trabalho aos seus próprios dentes.
Sala Discreta
A Torre de Belém, construída pelo rei D. Manuel, o Venturoso, no século XVI, à entrada da barra de Lisboa, entre vários atrativos, tem a curiosidade de possuir uma sala, a sala régia, onde duas pessoas, uma em cada canto, falando em voz baixa, conseguem ouvir uma à outra, sem que qualquer outra pessoa que esteja no centro da sala possa ouvir o que dizem.
A sala em questão é quadrada e tem o teto elíptico.
O “Padre-Nosso” Do Tipógrafo
Toda profissão tem o seu “padre-nosso”. Para amostra, aqui damos o dos tipógrafos, de autor desconhecido, o qual vai por conta da revista portuguesa “Viagem”, de onde o transcrevemos, data vênia:
“Chefe nosso que estais na redação, muito bons dias, vamos distribuir; venham a nós os vossos originais; seja feita a vossa vontade, tanto na composição como na impressão; o salário nosso de cada dia nos dai no sábado. Perdoai-nos, Senhor, os nossos “pasteis”, assim como nós perdoamos a má letra e as terceiras provas: não nos deixeis, Senhor, cair no sono, livrando-nos de trabalhar de noite. Amém”.
MATÉRIA
Veja Se Sabe…
Veja se pode responder corretamente às 20 perguntas abaixo, experimentando assim sua cultura e sua memória. Cada pergunta certa vale 5 pontos. De 80 a 100 pontos, é um resultado ótimo: de 60 a 80, bom; 50 a 60, regular. Confira os resultados com as respostas certas no fim da revista.
- Qual o grande gênio musical que teve 20 filhos: Mozart, Verdi ou Bach?
- A suíte “Scheherazade” é de autoria de Wagner, Rimsky-Korsakov ou Tchaikovsky?
- A ária “Ricondita armonia” pertence a qual destas óperas: “Tosca”, “Aida” ou “La Bohème”?
- O verso “Ora (direis) ouvir estrelas” é de Gonçalves Dias, Bilac ou Raymundo Correia?
- Julio Diniz, autor de “As pupilas do Sr. Reitor”, era advogado, médico ou engenheiro?
- Eça de Queiroz estreou nas letras com “O crime do padre Amaro”, “O mistério da estrada de Cintra” ou “Notas marginais”?
- José de Alencar era carioca, cearense ou paulista?
- Qual foi o primeiro português a chegar à Índia: Bartolomeu Dias, Vasco da Gama ou Pero da Covilhã?
- Quantas capitanias foram instituídas no Brasil: 10, 12 ou 16?
- O rio Amazonas foi descoberto por Pinzon, Orellana ou Orville Derby?
- Como se chamava o “caçador de esmeraldas”: Amador Bueno, Fernão Dias Paes Leme ou Diogo Alvares?
- Galeantropia é uma doença dos galés, a mania de ser galante, ou a doença em que o paciente se julga transformado em gato?
- Uranômetro é um aparelho para observar Urano, para medir a distância celeste ou para medir a chuva?
- A raiz da orquídea é aquática, aérea ou subterrânea?
- A palavra “repunbar” quer dizer: dar com o punho, repugnar ou opor-se?
- “Exarar” quer dizer: cumprir com exatidão, mencionar ou operar um êxodo?
- “Pusilânime” significa: criatura de ânimo fraco, tecido de lã sintética ou ferida purulenta?
- Qual era o antigo nome da Rua Buenos Aires: Rua Direita, Rua do Sabão ou Rua do Hospício?
- Rua das Bôas Pernas era um logradouro carioca que hoje tem outro nome. Qual destes: Rua Riachuelo, Rua Moncorvo Filho ou Rua Frei Caneca?
- Horace Wells, um dos inventores da anestesia, era médico, dentista ou farmacêutico?
Respostas
- João Sebastião Bach
- De Rimsky Korsakoff
- Da “Tosca” de Puccini
- De Olavo Bilac
- Era médico
- “Notas marginais” na Gazeta de Portugal, de 23 de março de 1866
- Era cearense
- Pêro da Covilhã, por terro
- Foram 12
- Foi Pinzon
- Fernão Dias Paes Leme
- Doença em que o paciente se julga transformado em gato
- Para medir as distâncias celestes
- Aérea
- Quer dizer: opor-se
- Quer dizer mencionar
- Significa: criatura de ânimo fraco
- Rua do Hospício
- Rua Moncorvo Filho
- Era dentista
MATÉRIA
Receita Do Trimestre
Atendido a sugestões de algumas gentis leitoras, iniciamos nesta seção, dedicada às donas de casa. Nela publicaremos receitas de cozinha, de preferência de bolos, doces e confeitarias, obtidas de boas procedências.
Ao iniciarmos a publicação das receitas, cumpre darmos algumas indicações genéricas, aplicáveis a todas, salvo indicação em contrário, das quais depende em grande parte o êxito das mesmas.
Medidas
O uso de medidas certas, padronizadas, é muito importante. Das proporções exatas dos ingredientes depende o sucesso da receita inicialmente.
Como nem sempre é fácil encontrar xícaras e colheres de medida padrão, pode-se escolher, entre as que temos, aquelas que corresponderem à seguinte tabela:
1 xícara equivale a 250 gramas de água, ou a 16 colheres de sopa.
1 colher de sopa (16 gramas de água) ou 3 colheres de chá.
1 colher de chá equivale a 5 gramas de água. Essas medidas de água podem ser controladas por meio de um copo graduado, desses usados nas formações. Encontrada a xícara e as colheres que correspondam a tais medidas, reservem-se como padrão de medida.
Ingredientes
Devem ser usados de boa qualidade e frescos.
Farinha. Para a maioria das receitas que levam fermento em pó, é recomendável a substituição de um terço da farinha de trigo por uma fécula, que pode ser araruta, maizena, fécula de batata, creme de arroz, etc. Isso produzirá um bolo ou biscoito mais macio e leve, sendo, porém, dispensável no caso de usar-se farinha especialmente para bolos. A fécula, bem como o fermento em pó, devem ser peneirados três ou mais vezes com a farinha, a fim de se conseguir uma mistura uniforme.
Fermento. Deve ser usado nas quantidades indicadas; o excesso ou a falta são prejudiciais. Ao fazer bolos, biscoitos e outras massas, o fermento em pó nunca deve ser misturado ao leite ou aos ovos; peneire-o sempre com a farinha.
Gordura. A melhor gordura para bolos é a manteiga. Quando houver necessidade, pode-se usar banha e manteiga em partes iguais, ou manteiga e composto também em partes iguais.
Leite. Cru ou fervido, o leite deve ser sempre usado frio. O leite comum pode ser substituído por uma mistura de quantidades iguais de água e leite evaporado, sem açúcar, ou leite em pó sem açúcar na proporção de 140 gramas para um litro de água.
Temperatura. As temperaturas do forno equivalem ao seguinte: bem quente, 220 a 245 graus centígrados; quente, 195 a 220; regular, 170 a 195; branda, 160 a 170.
Fofinhos
Eis aqui receitas básicas para preparar fofinhos e variações, da Standard Brands of Brazil, inc., que permitem apresentar os mesmos com diferentes gostos e características.
INGREDIENTES
Farinha
Araruta
Receita básica
Fermento em pó Royal
Sal
Açúcar Manteiga
Leite
Ovos
ECONÔMICA
2 xícaras
1 xícara
2 colheres de sopa
1 colher de chá
6 colheres de sopa
3/4 de xícara
RICA
2 xícaras
1 xícara
2 colheres de sopa
1 colher de chá
3 colheres de sopa
2/3 de xícara
1/2 xícara
Modo De Fazer
Peneire juntos, três vezes, os ingredientes secos, junte a manteiga, nivelando-a na colher, com as costas de uma faca. Com um garfo, misture-a bem amassada até formar grânulos. Para a receita rica, bata primeiro os ovos no leite que, em ambas as receitas, deve ser misturado à massa sem bater. Na mesa, levemente enfarinhada, estenda a massa, de preferência batendo de leve com os dedos enfarinhados, até alisar a superfície. Vire e faça o mesmo. A massa deve ter a espessura de cerca de dois centímetros. Corte em rodelas de aproximadamente 5 centímetros de diâmetro, podendo usar para isso a boca enfarinhada de um copo. Coloque-as espaçadas num tabuleiro untado. Asse em forno bem quente durante 12 a 15 minutos. Dá cerca de 15 pãezinhos. São mais gostosos servidos bem quentes.
Variações
Doces. Com a receita rica fazem-se: fofinhos de laranja, juntando raspas de laranja aos ingredientes secos e, antes de assar os fofinhos, umedecê-los com caldo de laranja, polvilhando-os em seguida com açúcar. Fofinhos de damasco, usando um terço de xícara de leite (em vez de meia) misturando com meia xícara de geleia. Fofinhos de anis, juntando essência de anis ao leite. Fofinhos de nozes ou de frutas passadas, adicionando, antes do leite, as nozes e as frutas bem picadas e polvilhando os fofinhos com açúcar e canela antes de assar.
Salgados. Com a receita econômica fazem-se: Fofinhos de queijo, juntando aos ingredientes secos 1 1/2 xícaras de queijo ralado. Fofinhos piquenique, cortando a massa em quadrados finos de 10 centímetros e cobrindo-os em triângulo com uma fatia de queijo e uma pasta feita com 2 xícaras de presunto picado e 1/2 xícara de maionese, mostarda e picles. Para assar, dobre em triângulo, pressionando bem as bordas.
Fofinhos recheados. Enquanto ainda estiverem quentes, abra os fofinhos e passe manteiga. Coloque o recheio em uma das metades, cubra com a outra e envolva tudo com a mesma mistura que foi usada como recheio.
Doces — Com a receita rica fazem-se: fofinhos de morango, esmagando os morangos com açúcar, a gosto. Podem ser servidos com creme chantilly. Podem-se usar outras frutas frescas em vez de morangos. Fofinhos de compota, recheando e cobrindo com a fruta picada em sua própria calda. Sirva com creme chantilly.
Salgados — Com a receita econômica fazem-se: fofinhos de camarão (ou peixe), fazendo molho branco com camarões picados, petit pois e pimentão em tiras, recheando e cobrindo os fofinhos. Fofinhos de galinha (ou outra carne), aquecendo em seu próprio molho, bem temperado, a carne cozida e picada, para servir de recheio e cobrir os fofinhos. São deliciosos.
(Receita gentilmente cedida pela Standard Brands of Brazil, Inc., fabricantes do fermento em pó Royal).
MATÉRIA
Piadas Do Z. K.
NÃO É BEM ISSO
-Ah! Minha filha, nem calculas como estou… o Betinho ficou de me vir pedir em casamento esta tarde… Como estou nervosa…
Calma, querida: tens medo que teu pai desaprove?
Não, não é isso. O que eu tenho medo é que o Betinho não venha…
RESPOSTA ADEQUADA
O galanteador querendo fazer espírito:
Que lindos pés a senhora possui… Que maravilha!… A propósito: permite-me fazer-lhe um pedido?
Pois não.
Quando morrer, deixe-os para mim.
Com muito gosto. Assim o senhor ficará com quatro…
NÃO É PARA MENOS
Joca (no volante de um possante automóvel) – Adoro a velocidade! É assim que se sente a alegria de viver. Você não acha?
O Amigo – Alegria de viver não direi. O que eu estou admirado é de ainda viver.
ESTRANHA TELEGRAFIA
Um sujeito que fora à igreja para ouvir o sermão de um pregador célebre, e que ficara tão distante do púlpito que mal podia ouvir uma palavra, declarou no final ter ouvido admiravelmente. Como lhe pedissem explicações, respondeu:
“O pregador falou com as mãos e eu ouvi com os olhos.”
COISAS QUE NÃO SE EXPLICAM
Sabes que idade tem a Mariquinhas?
Diz ela que tem 28 anos.
Boa!… Então nasceu aos 16.
VEM DO GREGO
Que horrível neuralgia!
Precisas ver de onde é que vem isso para poderes tratar direito.
Sei lá… O dicionário diz que vem do grego, mas eu não acredito. Nunca estive na Grécia.
ENTRE “ELES”
Um bêbado caminha pela Avenida Beira Mar. É noite de lua cheia. A certa altura, detém outro que vem em sentido contrário e pergunta-lhe, apontando a lua:
“Aquilo é a lua ou é um lampião?”
Ao que o outro responde, presto:
“Não sei, colega. Não sou do Rio… Cheguei ontem do interior.”
COISAS QUE PODEM ACONTECER
Em certa cena de uma peça, a heroína deveria morrer de um tiro de revólver, disparado pelo galã. Acontece, porém, que o contrarregra esqueceu-se de carregar a arma e, chegada a hora, a mesma não dispara. A artista, que tudo fizera para dar o maior realismo à cena, vendo-a a ponto de fracassar, não perde, contudo, a calma. Levando a mão ao peito, cambaleando, grita com voz estertorosa:
“Morro, morro gloriosamente, como primeira vítima da pólvora silenciosa!”
NA AULA DE HISTÓRIA
O que fez Cabral logo que pôs um pé em terras do Brasil?
Pôs imediatamente o outro.
ANEDOTA DO TRIMESTRE
HUMORISMO AMERICANO
A mãe, preocupada com o filho que acabara de ingressar num colégio, e que fora educado com todo o recato:
“Espero que seu companheiro de quarto, no colégio, seja um menino bem educado, meu filho…”
“Julgue por si mesmo, mamãe. Na noite passada ele bateu com as canelas numa cadeira, no escuro, e eu apenas o ouvi dizer: ‘Oh, a perversidade dos objetos inanimados!'”
GALANTERIA GORDA
– Dou-lhe os parabéns… Sua senhora toca piano admiravelmente!
-?!
– Pois não é ela que está aí, na saleta ao lado tocando Villa-Lobos e Stravinsky?
– Não, meu caro senhor… é a criada que está polindo as teclas.
NO INSTITUTO DE APOSENTADORIAS
O funcionário — Queira trazer também a certidão de óbito de seu marido…
A viúva — Pois não… Com muito prazer.
FILOSOFIA PADEIRAL
A maneira mais digna e apropriada de um padeiro se suicidar é atirar-se dentro do forno e deixar-se cozer aos poucos. É como o comandante que afunda gloriosamente com seu barco derrotado.
VOCÊ SABIA
Que os habitantes de Creta não são cretinos?
Que Germano não é gênero humano?
Que persuasório não é “seu” Osório?
Que Singapura não é siga pura?
Que bofetada não é pancada nos bofes?
Que Meetinikof não é meta no coire?
Não sabia?… Que tristeza!
MATÉRIA
Um Homem Ocupado Demais
Conto de HENRI ALLORGE
Do livro “Contos burlescos, irônicos e sarcásticos” Editora Vecchi, Rio
Allmaker era um homem de uma atividade devoradora, um cavador de negócios, que dirigia, ao mesmo tempo, uma fábrica de papel, uma tipografia, um banco e um teatro.
Ganhava milhões, mas também ninguém trabalhava tanto como ele. E, sobretudo, adotara métodos de trabalho ultramodernos.
Aplicava-os não só em suas fábricas e escritórios, mas também em seu apartamento particular. Não se podia falar com ele senão depois de ter pedido audiência, e a entrevista não durava nunca mais do que alguns instantes. Seu gabinete estava cheio de letreiros diversos, contendo recomendações aos visitantes: um processo que ele aperfeiçoara para evitar até o trabalho de responder aos importunos.
Servia-se constantemente do telefone, mas não gostava de ser chamado ao aparelho pelos seus empregados (exceto os grandes chefes de serviço). Tinha horror aos tagarelas e se livrava deles pelos meios mais drásticos.
Assim, sentia uma antipatia cada vez mais acentuada pelo porteiro de sua fábrica de papel, um meridional chamado Lalou, que admitira a contragosto, forçado pela recomendação de um de seus maiores acionistas.
– Aí está um sujeito – dizia ele sobre Lalou – que abusa do direito de falar! Para completar, tenho certeza de que ele logo pedirá um aumento. Ah! Será bem recebido!
Alguns dias depois (estávamos em pleno verão), o Sr. Allmaker dormitava sobre um processo quando a campainha do telefone vibrou.
– Alô, Sr. Allmaker?
Ele mesmo. Quem está ao aparelho?
Lalou… O porteiro…
Ah, meu amigo, não tenho tempo para escutá-lo!
Um quarto de hora depois, bateram à porta do apartamento.
O porteiro da fábrica de papel disse: “Batista, o camareiro, pede insistentemente para falar com o senhor.”
Outra vez ele!
– Declaro que é para assunto importante.
Claro! O seu aumento. Vou despachá-lo em um abrir e fechar de olhos.
Lalou entrou e cumprimentou-o acanhadamente. Quando ia abrir a boca, Allmaker apressou-se a fechá-la com estas palavras:
– Não tenho tempo.
E mostrava-lhe com o dedo um dos letreiros pendurados na parede:
“SEJA BREVE!”
Apresento os meus respeitos ao Sr. diretor…
Segundo gesto, que queria dizer “cale-se” e indicava o segundo letreiro:
“VOU BEM, OBRIGADO”
Há acontecimentos…
Silêncio!
Terceiro letreiro:
“JÁ LI OS JORNAIS”
Senhor, conseguiu murmurar o porteiro – é preciso que eu te diga: é muito grave…
Pois bem, escreva-me: entre no gabinete ali ao lado, encontrará papel e envelope; entregará a carta ao camareiro.
Lalou obedeceu maquinalmente. Vinte minutos depois, o criado trouxe sobre uma bandeja a seguinte missiva:
“Senhor,
“Lanço mão da pena para dizer-lhe que há um incêndio na fábrica. Tudo está se queimando há três quartos de hora. O escritório do senhor diretor está fechado e ninguém tem as chaves. As janelas são gradeadas. O fogo já entra pelos vidros quebrados no aposento onde o senhor tem tudo o que é de mais precioso. Se quisesse confiar-nos as suas chaves…”
Allmaker precipitou-se, arrancando os cabelos de desespero:
Batista! O automóvel imediatamente!
E depois acrescentou:
Que estúpido, esse Lalou! Há quanto tempo que eu lhe pedia para explicar-se!